A comemoração em torno da Parceria Público-Privada para antecipar a coleta de esgotos na Barra da Tijuca e dar fim à já velha poluição das lagoas e cursos d'água da região é pura figuração. Não vai resolver, da mesma maneira que a estação de tratamento de São Conrado não impediu o apodrecimento da praia.
Embora nos últimos quinze anos se tenha atribuído a acelerada poluição das lagoas da Barra e de Jacarepaguá à multiplicação de condomínios, estado e município sabem muito bem que o crime resulta da ocupação desordenada. Onde se localiza a maior produção de despejos sem tratamento? Nos condomínios ou nas sessenta favelas que explodiram na área, no período? Quantos condomínios são necessários para igualar o despejo dos trinta mil barracos e apartamentos só da favela Rio das Pedras?
O problema é que o poder público no Rio de Janeiro patrocina um sistema de embuste permanente que passa de uma administração a outra e quase não se percebe. Mas nada em administração pública é regido por transferência automática – a menos que interesse. É o caso, por exemplo, dos esgotos que apodrecem praias e lagoas da cidade.
Da mesma maneira como só olha para os gatos gordos que lhe roubam água, a Cedae atribui o crime ambiental à classe média alta. E não está sozinha nisso. Um punhado de ambientalistas faz coro. Atribuir malfeitoria à favela é feio.
No segundo governo Garotinho, o que é atribuído à patroa, chegou-se ao absurdo de atravessar uma cerca de arame (com portão de ferro) na lagoa Tijuca para conter os águapes que vinham da lagoa do Camorim. As plantas proliferam nas águas podres e invadiam as praias da Barra depois das chuvas fortes. Há condomínios sem coleta de esgoto em volta da lagoa do Camorim? Não. Já favelas…
A estação de tratamento de esgotos de São Conrado foi inaugurada há quatro anos, custou quinze milhões de reais e dizia-se que, com ela, encerravam-se décadas de mar poluído e línguas negras ao final de cada chuva de verão. Cascata, como de hábito. Não há um só edifício da área fora da rede coletora, mas esqueceram que a Rocinha produz mais despejo que todos os condomínios de São Conrado juntos. Esse é outro vício carioca: achar que o problema das favelas é só o tráfico e o visual.
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