Vejo lá e ponho aqui

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

SERRA COMEÇOU A DUPLICAR ESTA VIA; MAS HÁ QUEM QUEIRA DESTRUÍ-LA. SIM, ELES FALAM A SÉRIO!

marginal-tiete

Às vezes, a loucura pura e simples, sem retoques, toma conta do debate público. E pronto! Tem-se uma causa. Por mais estúpida que seja. Se estamos em período pré-eleitoral e certo jornalismo precisa de um pretexto para demonstrar toda a sua furiosa isenção, aí o coquetel de bobagens pode ser assustador.

É o que se vê na celeuma criada por causa da ampliação da Marginal Tietê, em São Paulo. Petistas, onguistas, jornalistas, arquitetos, urbanistas… Todos eles têm uma solução fácil e energúmena para resolver os problemas de São Paulo. Para quem não é da cidade: as vias que recebem esse apelido correm paralelas ao rio Tietê e ligam as zonas Norte, Sul e Oeste da cidade. Também servem de acesso ao aeroporto de Cumbica e às rodovias Anhangüera, Bandeirantes, Castelo Branco, Dutra, Fernão Dias e Ayrton Senna. Foram construídas há 52 anos. E entraram em colapso faz tempo. O governo José Serra, em parceria com as concessionárias que administram os sistemas Anhanguera/Bandeirantes e Ayrton Senna/Carvalho Pinto, decidiu investir R$ 1,3 bilhão para construir 23 km de pista de cada lado do rio, com três novas faixas em cada uma, além de um conjunto de obras acessórias, como pontes, viadutos e alças de acesso.

Se ninguém atrapalhar, o complexo, gigantesco, fica pronto em outubro do ano que vem e significará, obviamente, um alívio e tanto para os motoristas que por ali trafegam. Mas os engenheiros de obras prontas — e de obras que jamais serão construídas — estão fazendo de tudo para que a vida dos usuários da Marginal continue um inferno.

Quem deu início ao movimento foi o urbanista Jorge Wilheim, que foi secretário de Marta Suplicy — e de mais um monte de gente (de Serra, nunca!). Sua expertise foi testada em dois túneis catastróficos construídos nas avenidas Rebouças e Faria Lima. Inaugurados, tiveram de ser fechados em seguida porque inundavam e ameaçavam matar os motoristas afogados. Segundo diz, ampliar as marginais é repetir o erro de dar prioridade aos automóveis…

Na Folha de ontem, lia-se a seguinte manchete de página: "Para urbanistas, Nova Marginal amplia erro". A reportagem, evidentemente, só ouvia gente contra a obra. A Marginal está estrangulada, certo? Certo! Alguma resposta tem de ser dada, certo? Certo. E o que fazer? Ora, vamos seguir o que diz o arquiteto José Fábio Calazans na entrevista ao jornal. Prestem atenção:
Ele propõe a construção de um parque linear de 90 km ao lado do rio, de Mogi das Cruzes a Itapevi, com lagos para abrigar a água de dias excepcionais, como anteontem. A marginal atual seria substituída por pistas paralelas distantes 1,5 km das que existem hoje. O projeto, que deve consumir 15 anos, visa integrar o rio à cidade.

Vocês entenderam direito. Vejam a foto da marginal, que tem 24,5 km. de cada lado A solução, para daqui a 15 anos - nada menos - é destruir essas pistas, fazer jardins e, de ambos os lados, a 1,5 km dali, rasgar a cidade de fora a fora. Alguém aí tem idéia do que isso significaria em custo de desapropriação, por exemplo? Imaginem as dificuldades legais para fazê-lo, sem contar que as obras congestionariam todas as ruas e avenidas ao redor das marginais. Se o Brasil fosse a China ou a URSS de Stálin, o governante mandaria evacuar a área, passava fogo nos descontentes, como Lênin recomendava, e pronto!

Aí o repórter da Folha escreve: "O diagnóstico de Calazans pode parecer radical, mas não é de uma voz isolada -três especialistas em urbanismo e drenagem ouvidos pela Folha concordam que a ampliação da marginal é um equívoco."
Mentira! Calazans é voz isolada, sim. Só ele propõe uma estupidez como aquela. Outros que são contra a nova Marginal o são por razões distintas. O autor do texto usa a seguinte lógica: "Há algo em comum entre os torcedores do Santos, do Palmeiras e do São Paulo: eles não torcem para o Corinthians…" Segue a reportagem:

"É um erro histórico", diz o arquiteto Vasco de Mello, que integra um grupo que questiona a obra do governador José Serra, orçada em R$ 1,3 bilhão. "As pistas vão ficar congestionadas em seis meses. Estão jogando dinheiro no ralo." Segundo entendi, a "autoridade" técnica de Vasco de Mello está em integrar um grupo contra a construção da Marginal. Argumento? Não poderia ser mais definitivo: "As pistas vão ficar congestionadas em seis meses". Profundo.

Um dos fortes motivos apontados para criticar a obra é a tal impermeabilização do solo - o governo sustenta, com bons argumentos, que há um plano ambiental, e há mesmo, que compensa a área que receberá asfalto. De todo modo, reconhecem até os críticos, a nova Marginal representará 19 hectares de impermeabilização num universo já impermeabilizado de 150 mil hectares - espantosos 0,012%. Clicando aqui, você tem acesso a informações sobre a obra e ao plano de manejo ambiental. Informa a página:
"Das 4.589 árvores existentes na Marginal do Tietê, 935 serão replantadas e 559 serão retiradas (destas, 127 são árvores mortas, com problemas como cupim). Outras 4.900 árvores serão plantadas nos canteiros da via expressa, o que ampliará o número original de árvores na própria área da via expressa. Outras 83 mil novas árvores serão plantadas nas ruas adjacentes. Além disso o programa de compensação ambiental prevê o plantio de 63 mil mudas no Parque Várzeas do Tietê. O projeto total inclui o plantio de 150.900 árvores."

Leiam a opinião de outro engenheiro contrário à obra:
O problema principal da obra não é tanto a impermeabilização do solo, na visão do engenheiros Julio Cerqueira César Neto e Aluísio Canholi. (…) A marginal alagou, segundo Canholi, porque a chuva [de quinta-feira] foi excepcional. Medição feita pela equipe dele na ponte da Casa Verde constatou que a vazão do rio estava em 735 m3 por segundo às 16h de anteontem. Em setembro, o rio costuma correr à razão de 30 m3 por segundo, afirma.

Entenderam? A vazão do rio estava 25 vezes (!!!) acima do normal porque caiu um chuva realmente histórica em São Paulo. Não havia qualquer relação entre a obra e a chuva. Canholi é contra  a Marginal porque acredita que a cidade tem de rever a sua relação com o rio Tietê etc. Mas não aponta alternativa.

Ele não poderia faltar
Um debate equivocado não seria completo sem Gilberto Dimenstein, o professor de Deus. A capacidade deste senhor de ter idéias genéricas e erradas sobre qualquer assunto é impressionante. Na Folha Online, ele escreveu:

O caos que se transformou a cidade de São Paulo ajudou a mostrar o que considero o maior erro de toda a gestão José Serra: torrar centenas de milhões de reais para ampliar a marginal do Tietê. É uma obra absolutamente estúpida e, suspeito, com fundo eleitoral da pior espécie.
A cidade de São Paulo só não é um caos nas ONGs de Gilberto Dimenstein. Muito bem: qual é alternativa à ampliação da Marginal?

O que vimos é resultado de uma série de governantes que desrespeitaram a natureza da cidade, tornando cada vez mais difícil a vazão da água –as obras da marginal colocam Serra nessa lista. As obras impermeabilizam ainda mais a cidade e, de quebra, significaram a derrubada de milhares de árvores.
A impermeabilização, como já vimos, é ridícula. E a derrubada das árvores é mentirosa. A afirmação de que as novas pistas colocarão mais carros na rua é própria de um juízo perturbado. Reparem: ele diz que as pistas não resolverão o problema.

Quando começaram a planejar as marginais, na década de 1960, poucas vozes urbanistas (a paisagista Rosa Klias, por exemplo) alertaram para o estrago e diziam que ali poderia ser construído o maior parque linear do mundo –e, além de criar uma imensa área de lazer na cidade, aquilo serviria para conter as enchentes.
A obra é de 1957 - não "começou" a ser planejada na década de 60. De todo modo, a cidade não pode recuar 50 anos para corrigir os erros então cometidos.

Satanizando o carro
Onde estava toda essa gente quando Lula decidiu enfrentar a crise internacional baixando o IPI de automóveis e lançando alguns milhares de carros por mês em São Paulo? O que os Dimensteins e assemelhados propõem? Que o governo federal incentive a compra e o uso do automóvel e que o governador de São Paulo destrua as marginais para que eles não tenham onde transitar? Talvez um tanto tocado pela democracia chinesa, o correspondente da Folha em Pequim, Raul Juste Lores, acha que é por aí, sim: "Se as Marginais Tietê e Pinheiros encolherem, talvez milhares de paulistanos comecem a exigir mais transporte público em vez de novos túneis e viadutos. Para um caos que parece irreversível, será auspicioso". O que isso quer dizer, leitor? Nada! Só frase de efeito.

"De burrinho"
Diante da proposta de destruir as marginais, o governador Serra indagou: "E o pessoal vai andar de burrinho para ir até Guarulhos?" Mais ou menos isso. Ou, sei lá, a gente não deve ser tão esperançoso. Quem propõe destruir as Marginais certamente será cavalgado. Pelo burrinho!

Há um óbvio, evidente e perceptível investimento em transporte público em São Paulo, especialmente Metrô e CPTM (que investirão R$ 20 bilhões entre 2007 e 2010). O Rodoanel, que alguns especialistas apontam como solução, já tem trechos inaugurados. A ampliação da Marginal dá uma resposta rápida e eficiente para um problema que já está instalado. A mobilização contra a obra, quando não é politicamente motivada, é fruto ou da desinformação ou da opinião de "especialistas" que imaginam estar vivendo na URSS stalinista.

Só para encerrar: uma enchente bíblica como a experimentada por São Paulo, vem sempre acompanhada de outras desgraças. O Ministério Público Estadual pediu a interdição das obras da Nova Marginal por causa da enchente de quinta-feira. O que a obra tem a ver com o transbordamento do Tietê? Nada! Rigorosamente nada! Ela mal começou. A promotora Maria Amelia Nardy Pereira acredita que é preciso ter "estudos mais aprofundados sobre a impermeabilização do solo".

Resta o quê? Sugerir aos paulistanos que se organizem para resistir a essa mistura de misticismo, desinformação, maluquice teórica e vigarice política. E é preciso também se documentar para prestar contas à população, que paga impostos e quer serviços. Se a obra ficar pelo meio do caminho por causa de todos esses supostos amantes da natureza, é preciso que os paulistas e paulistanos saibam de quem cobrar a fatura.

Vejam o site com o projeto da Nova Marginal. Raramente se viu no país — ou nunca! — uma obra que fosse tão ecologicamente responsável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pesquisar este blog