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terça-feira, 8 de setembro de 2009

Por que os arquitetos perdem espaço nos projetos habitacionais?

4/Setembro/2009

Falta interesse dos arquitetos? Economia descabida do poder público e incorporadores? Despreparo? Ou tudo isso?


Ana Paula Rocha

O programa Minha Casa, Minha Vida, do Governo Federal, que completa seis meses em setembro, trouxe desafios não só para as incorporadoras e construtoras, que vem se adaptando para atender essa fatia de mercado, mas também para os arquitetos, que devem apresentar projetos habitacionais inteligentes. Ao todo, serão cerca de 400 mil casas para a faixa entre zero a três salários mínimos e 600 mil unidades para faixas entre três a dez salários.

Aliar a industrialização, produção em massa, baixo orçamento e novas tecnologias parece ser a única solução para tornar o programa realidade. A padronização também tem sido vista com bons olhos por algumas empresas. A CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) de São Paulo, por exemplo, inaugurou, em diversas cidades do estado, casas-modelos construídas sob o novo padrão de projeto da empresa, que incorpora conceitos de Desenho Universal, estabelecidos para facilitar a vida de pessoas com deficiência temporária ou permanente, crianças, idosos, gestantes e obesos.

Arquivo Pessoal
José Bassalo
"Independentemente do mérito de suas qualidades, esses modelos há muito existem e sempre estiveram à disposição de quem os quisesse adotar. Além disso, a consideração de modelos e referenciais está na base da produção projetual de todo arquiteto", acredita José Bassalo, arquiteto do escritório Meia Dois Nove. Para ele, os modelos não reduzirão a importância dos arquitetos. "Os contratantes mais conscientes buscam soluções projetuais adequadas para cada caso específico, o que faz aquecer o mercado de projetos", afirma.

 

Denise Vidal
Marcelo Fernandez
Outra questão que torna a participação dos arquitetos imprescindível neste segmento é a urbanização dos empreendimentos, questão relevante no que diz respeito a habitações de interesse social. "A arquitetura vai ser repetida enquanto construção, mas a maneira como vai ser implantada no terreno sempre vai mudar. Não é possível criar um loteamento padrão, são terrenos e situações diferentes", acredita Marcelo Fernandez, arquiteto da Meta Arquitetura.

Novas soluções para as habitações

O arquiteto e urbanista Raymundo De Paschoal, apesar de reconhecer a importância dos profissionais da arquitetura nos projetos de interesse social, acredita que ainda faltam novas soluções para o segmento. "Os programas para baixa renda resultaram até agora em conjuntos habitacionais sempre repetitivos, ignorando especificidades, condicionantes urbanas e mesmo sociais", afirma o também professor do Centro Universitário Belas Artes.

Para ele, os arquitetos trabalham de forma invertida: primeiro apresentam o conceito das residências, para só então fazer o levantamento, análise e diagnóstico verificando a viabilidade do empreendimento. "O projeto é um fato cultural, que precede à obra. O arquiteto não possui a decisão de construir ou não a obra. Mas nem por isso os arquitetos deixam de fazer arquitetura", afirma De Paschoal. 

Marcelo Scandaroli
Paulo Fonseca
"Os profissionais de arquitetura estão perdendo espaço na busca de soluções para o segmento da baixa renda, não tanto por limitações impostas pelos agentes de mercado ou pelos organismos oficiais, mas muito mais por sua própria omissão frente a esta demanda", opina o professor Paulo Eduardo Fonseca de Campos, da FAU-USP.  "Falta por vezes, a nós arquitetos, a vontade e o compromisso para atuar no segmento da habitação de interesse social e, em um nível mais amplo, do habitat popular", completa.

 

Cristóvão Duarte
Luiz Fernando

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