O que há em comum entre Lênin, Josef Stálin, Mao Tse-Tung, LuLa, Guido Mantega e Aloizio Mercadante? Para que responda essa estranha pergunta, terei de recorrer a algum contexto. Leiam a frase abaixo.
“Estou num país em que nenhum homem assume suas posições. Quando eu assumo, sou tachada de durona e mal-humorada”.
A fala é da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), pré-candidata de Lula à Presidência da República e, muito provavelmente, pré-candidata do PT - malgré lui-même, a despeito de seu querer. Fosse por sua vontade, o PT faria outra escolha. Qual? Não se sabe. Mas Dilma não seria. Lula, no entanto, confia em sua intuição. Vamos ver. Como se nota, a ministra tem uma avaliação ruim do homem brasileiro — o homem mesmo, não a espécie; ela se refere àquele da testosterona como hormônio dominante, a parte do país que têm pênis, pomo de Adâo, barba e, no mais das vezes, voz grossa. Dilma, como se nota, acha o macho brasileiro meio frouxo, meio bocó, meio bobalhão, aquilo que, na escola, antigamente, a gente chamava “mulherzinha”, em sentido pejorativo. É isso: Dilma acha o homem brasileiro muito mulherzinha. E, hoje em dia, felizmente, nem a mulher aceita ser mulherzinha.
Trato este assunto sempre com humor. Em casa, o elemento feminino domina tanto entre os seres que têm polegar opositor como entre os que não têm. Sou casado com mulher, só tenho filhas, também aqueles especialmente amados por São Francisco, por aqui, são meninas. Sou o único na casa a ter a testosterona como hormônio dominante (acho eu), apesar de meio esquisito: não sei dirigir, não jogo futebol, leio poesia, não faço comentários cafajestes com amigos sobre a bunda das mulheres alheias, gosto de perfumes, não considero que estou sempre certo (embora seja freqüente), preocupo-me com advérbios, não entendo porra nenhuma de eletricidade (Dona Reinalda pode dar aula a respeito), não tenho o que dizer quando a caldeira do prédio dá problema (Dona Reinalda não só tem o que dizer como tem a solução), não sei quando vence a mensalidade da escola, o condomínio, o plano de saúde. Sem Dona Reinalda, não sou ninguém. Nem sexo eu faço sem ela, vejam só… Dilma deve me achar mulherzinha. Mas assumo posição. Ou posições — quando quero ser sutil…
Depois de uma digressão, tentando aqui me caracterizar, quem sabe?, como um tanto atípico, embora tenha o pendor de todo macho atrasado para a generalização — enquanto as mulheres parecem preferir os detalhes —, volto ao principio do texto. Acho que Dilma esta mal acostumada e pode ter uma experiência deformada com homens. Ah, por favor! Repudiei os comentários, e os repudio, que tentaram associar a declaração da ministra à sua ”condição sexual” — nunca emprego a expressão politicamente correta “preferência sexual”. Ninguém “prefere” coisa nenhuma. “Preferir”, todo mundo “prefere” ser heterossexual. Mas algumas pessoas não são. Ponto final. Não acho que a fala da ministra tenha qualquer relação com essa questão. Machistas e misóginos são, no geral, heterossexuais. O mesmo se pode dizer de uma mulher misândrica. Se Dilma gostasse de mulheres no sentido amoroso, certamente teria uma impressão mais generosa dos homens.
Xiii… Distanciei-me de novo. Agora volto mesmo. O que há de comum entre Lênin, Stálin, Mao Tse-Tung, Lula, Guido Mantega e Aloizio Mercadante? Todos eles são maus exemplos de homens para a ministra Dilma Rousseff. Os três primeiros certamente ajudaram a compor seu imaginário juvenil de varões que “assumem posições”. E, quando esquerdistas desse (ou daquele) quilate se posicionam, é melhor sair da frente. A humanidade treme. O que quero dizer é que o desempenho de valentes como estes citados distorcem a impressão do que pode ser um “homem de posição”. Fica difícil rivalizar com qualquer um deles caso se leve em conta a sua obra, não é mesmo? Fizeram questão de, sob certo ponto de vista, deixar Gengis Khan no chinelo. Dilma vê o homem contemporâneo e deve pensar: “Que falta de posição!”
Os três distorcem o seu imaginário adulto. Na aludida entrevista, ela voltou a se referir aos “homens meigos” que a cercam — que, salvo engano, são brasileiros e, pois, “não assumem posições”. Tomo Guido Mantega apenas como emblema. Dilma gosta de dar bafão, o famoso esporro, nos seus subordinados meigos. Mantega é um dos alvos constantes. E ele agasalha a fúria da chefa com impressionante meiguice, pouco importa quem assista ao espetáculo. Não que ela seja, de fato, um exemplo de eficiência. Ela só é mais rápida do que os que a cercam para arrumar culpados, e sua ausência de limites se confunde com excesso de competência. Ela conclui: “O homem brasileiro não assume posição”.
Mercadante, um senador do seu partido, também a leva a maldar do homem brasileiro. Embora ela pudesse exaltar as virtudes do dicionarista, acabou relevando a sua dificuldade de “assumir posições”. Ele passou sete anos no Senado, mas sua grande contribuição foi à língua portuguesa. Ele emprestou sentido novo à palavra “irrevogável”. Não um sentido qualquer, aleatório, descolado do original. Ao contrário (mesmo!): o “irrevogável” passou a significar “revogável”, uma pequena revolução na inculta e bela. Mas Dilma pode ter pensado: “Isso é o homem brasileiro”.
E, é claro, Lula tem sido a mais permanente influência no juízo deformado que Dilma faz do “homem brasileiro”, o que certamente estimula a sua misandria. No que acerta, Lula se dedica, a cada dia, a negar o que dissera aquele antigo político de oposição; no que erra, ele guarda impressionante coerência com o seu passado.
Dilma está equivocada, é claro. É que a amostra com a qual ela lida é muito ruim.
PS: Olhem cada coisa que o Reinaldo escreve! Ora, Reinaldo só chama a atenção para a estupidez da declaração e a trata de modo debochado. Imaginem se um candidato, qualquer um, se referisse de forma depreciativa às mulheres brasileiras como um todo. Cansei da boçalidade. Da boçalidade de alguns homens. E da boçalidade de algumas mulheres.
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