Anelso Paixão
As recentes revelações de casos de doping em número recorde no atletismo nacional levantaram a questão: o que pode ser considerado doping? Se a definição do termo é "qualquer substância que, ministrada ao organismo, aumente artificialmente o seu rendimento ou performance em competições", o fisiologista do São Paulo Futebol Clube e do Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte, o conceituado Turíbio Leite de Barros, levanta uma hipótese no mínimo questionável: a lipoaspiração também é doping.
"Na medida em que a retirada de gordura corporal pode melhorar o desempenho físico, é inevitável que se questione se seria um procedimento lícito ou se existem restrições de natureza ética e até legal na visão das leis do esporte", escreveu Turíbio em um artigo nesta semana. "A lipoaspiração é uma cirurgia que altera a composição corporal do atleta e pode melhorar seu desempenho", completa.
O fisiologista dá até um exemplo claro em que a lipo seria um artifício visando à melhora de desempenho do atleta. "Vamos considerar um esporte ou modalidade de valorização do físico como o fisiculturismo. Seria lícito um atleta fisiculturista fazer uma lipoaspiração para definir melhor sua musculatura e ganhar pontos no julgamento da modalidade?"
Turíbio lembra que outro procedimento, até menos invasivo que a lipo, já foi vetado no esporte. "A autotransfusão, que é a retirada de hemácias (glóbulos vermelhos) do próprio atleta para uma posterior injeção, com o objetivo de melhorar o rendimento físico, é considerada doping. Nem sequer é uma cirurgia e é terminantemente proibida", diz o fisiologista.
No caso da lipoaspiração, várias modalidades poderiam se beneficiar dela, e Turíbio dá mais um exemplo claro. "Imagine uma pugilista que tire gordura e diminua seu peso, mudando de categoria. Ele continuará com a mesma carga muscular de um competidor de uma categoria acima da sua. Ou seja, seu corpo será uma máquina muito mais potente do que de um concorrente da mesma categoria."
Por isso, o fisiologista diz que o conceito de doping é difícil de se estabelecer e afirma que, no futuro, o que hoje não é doping poderá vir a ser. "Daí a questão de um atleta famoso ser submetido à lipoaspiração. Com certeza, o exemplo pode ser seguido e corremos o risco de, daqui a pouco, incorporar o cirurgião plástico na comissão técnica do esporte profissional."
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090809/not_imp415882,0.php
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