POR QUE GIL PODERIA SER O LADO MAIS “CONSERVADOR” DE MARINA

do Reinaldo Azevedo | VEJA.com de Reinaldo Azevedo

Gilberto Gil está se oferecendo para ser vice de Marina Silva caso ela se candidate à Presidência da República? Preciso conter aqui a minha tropa de choque do sarcasmo.

Até onde consigo tratar a sério da candidatura de Marina, é evidente que um Gilberto Gil de vice conferiria, assim, um lado, como vou dizer?, mais circense àquela gravidade encantada da Musa da Floresta. Embora Marina diga algumas coisas que considero estranhas, ela sempre é muito assertiva. Gil lhe emprestaria aquela dialética com sotaque mental de Bob Marley. Indagado se toparia ser vice, responde: “Uai! Claro que existe possibilidade de dizer sim. Existe A possibilidade de dizer não, existe a possibilidade de tudo. Mas só quero dizer a ela, se ela me convidar”. Gil sempre surpreendente e profundo. Entre o “sim” e o “não”, creio, existem todos os matizes do talvez…

Sim, seria o lado mais circense, mas também o mais ligado à velha ordem… Gil como vice de Marina seria a garantia de que não haveria mudanças radicais. Por que estou dizendo isso?

Vocês acreditam — sim, vocês acreditam — que Gil, ex-ministro da Cultura, entrou com um pedido para conseguir benefícios da Lei Rouanet para a realização do DVD “Gil Luminoso”? Isto mesmo! Um dos mais consagrados artistas do Brasil, ex-titular da pasta que concede benefícios, recorre a seus antigos subordinados e ainda aliados para obter benesses de uma lei de incentivo.

Ele pediu, e o Ministério da Cultura concedeu.

O que há de ilegal nisso, considerando que Gil já está fora do ministério e deve ter sido esperto o bastante para esperar a quarentena necessária? Nada! Mas é de uma imoralidade espantosa. Em todos os sentidos que se queira.

“Incentivar” artistas que estão no topo da pirâmide do prestígio, aos quais não faltará público, é, parece-me, contrariar o espírito da lei — e contesto no post seguinte algumas bobagens ditas por Juca Ferreira, ministro da Cultura, em sabatina promovida hoje pela Folha de S. Paulo.

Conceder o incentivo a quem acaba de deixar o ministério, passando o bastão a aliados, não foge aos costumes da Casa Grande. A senzala que se dane.

Por isso é que digo que Gil como vice de Marina seria o lado mais escandalosamente conservador da candidata, um sinal de que o Brasil continuaria o mesmo…

O nome do DVD “Gil Luminoso”. Sem dúvida, tudo é de uma clareza espantosa.