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quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Contravenção não quer luz sobre o Carnaval carioca

Num país em que a transparência oferecida pela prática da comparação de métodos e preços ainda é a melhor vacina para erradicar a falcatrua, a indignação dos comandantes de escolas de samba cariocas contra a decisão da prefeitura é claro sinal de que algo além de alegorias cruza a avenida nos desfiles.

O que não se diz no noticiário sobre a revolta dos donos das escolas é que o carnaval carioca pode ser a maior festa popular do planeta, mas é também o mais colorido retrato do domínio da contravenção sobre a cidade. Onde se lê que as escolas de samba ameaçam não desfilar, se a organização da festa for licitada, leia-se que os banqueiros do jogo do bicho não admitem, nem como hipótese, que sua fachada legal, a Liga Independente das Escolas de Samba, fique de fora.

Se a Liesa, que organiza o Carnaval há 25 anos, exerce competência e lisura indiscutíveis é só botar as credencias na mesa e puxar as fichas. O que não pode é tentar melar o jogo com ameaças de sabotagem. Se fosse tudo tão transparente, como afirmam os dirigentes de escolas, não teriam surgido este ano tantas e tão fortes evidências de manipulação nos resultados do Grupo Especial.

Na verdade, transparência e distância entre escolas de samba e crime são quesitos, como diria Chico Buarque, do tempo em que o pessoal subia o morro para comprar samba. Ou alguém esqueceu do túnel privativo que os traficantes da Mangueira usavam para frequentar as festas na quadra? Foi por isso – e não por economia – que a Xerox e o laboratório Cristália deixaram de patrocinar a revista e as obras sociais da escola.

Nesta história de Carnaval, talvez falte aos donos do samba perceber que a festa não pertence a dirigentes de escolas ou banqueiros de bicho, mas à cidade.

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