Os países do mundo árabe podem ser divididos em três grupos. Primeiro, existem os do Magreb, que historicamente sempre foram próximos da Europa, inclusive geograficamente. A Argélia era uma Província da França. O Marrocos fica praticamente grudado na Espanha. O segundo grupo, descrito como Levante, congrega as antigas regiões otomanas tradicionais. Além disso, eram berços de civilizações antigas, como o Iraque, Líbano, Síria, Egito e os territórios palestinos.
O terceiro grupo sempre foi ignorado pelo resto do mundo ao longo de séculos, a não ser por Meca. As áreas onde hoje estão o Kuwait, Qatar, Bahrein, a maior parte da Arábia Saudita e os Emirados Árabes eram praticamente ignoradas pelos europeus até a descoberta do petróleo. De pescadores a tribos nômades, lugares como Dubai e Abu Dhabi se transformaram em algumas das cidades mais ricas do planeta.
O impacto que nós brasileiros tínhamos ao desembarcar nos Estados Unidos até os anos 1980, quando vivíamos em uma economia fechada, é quase o mesmo que um americano sente hoje ao visitar Dubai. Esta cidade praticamente inexistia na cabeça de qualquer brasileiros uma década atrás. Sua emergência foi inacreditável. Tratava-se de uma empresa com uma estratégia de marketing ultra bem sucedida que ocupou a capa da revista Caras e conseguiu se tornar tema de reportagens da Hebe ao Amaury Jr.
Mas Dubai não era como nenhum dos seus vizinhos e tampouco como os árabes do Levante. Os libaneses sempre tiveram uma tradição bancária conservadora. Inclusive, assim como Israel, superou a crise financeira internacional sem grandes problemas, apesar de ser um país em conflito. O mesmo não se pode falar de Dubai. Em primeiro lugar, esta cidade-Estado é administrada como uma empresa. Tem um dono, que contratou profissionais do mundo todo para conseguir se manter como os seus vizinhos, sem possuir a mesma quantidade de petróleo. Investiu em portos, turismo e um boom imobiliário. O problema é que deixou pouco de reserva. Ao contrário de seu irmão, Abu Dhabi, que preferiu se focar em seu mega fundo de investimentos e manteve o conservadorismo de suas finanças sem o deslumbramento de Dubai.
Agora, esta cidade depende de seus vizinhos para ser resgatada. O problema é que todos estavam cansados das gastanças de Dubai. E, ao mesmo tempo, se tornaram rivais. Manama quer Dubai. Doha quer ser Dubai. Todos querem atrair investimentos estrangeiros. O irônico de tudo isso é que, não fosse a Guerra Civil Libanesa, Beirute seria o que Dubai é hoje. Mas mais cosmopolita, autêntica e infinitamente mais bonita do que a dos Emirados.
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