O Bolsa Funeral, que o governo pretende agregar ao Bolsa Família, é uma tentativa de recuperar, num novo formato, uma prática antiga da política brasileira: o morto que vota.
Como é mesmo?
Vai transar? O governo dá camisinha.
Não quer engravidar? O governo dá pílula.
Já transou sem proteção? O governo dá pílula do dia seguinte.
Engravidou? O governo dá o aborto.
Teve filho? O governo dá o Bolsa Família.
Tá desempregado? O governo dá o Seguro Desemprego.
Vai prestar vestibular? O governo dá o Bolsa Cota e o ProUni.
Quer morar? O governo dá o Bolsa Moradia.
Não tem terra? O governo dá o Bolsa Invasão e ainda aposenta o invasor.
Vai morrer? O governo dá o Bolsa Caixão.
Como se nota, o norte conceitual dessa prática é a estatização do indivíduo do tesão dos pais à própria morte. E, assim, uma boa parte da sociedade brasileira vai se tornando prisioneira dos grilhões da virtude, da cadeia do “bem comum” garantida pelo estado.
Há um quê de condenação nessa história. Sempre se reclamou uma porta de saída para o Bolsa Família — e Lula, sem dúvida, está arranjando uma. O estado, como se nota, empacota o indivíduo do primeiro flerte dos progenitores à hora final.
Escrevi certa feita que o brasileiro da utopia estatista precisa do governo até para cuidar das chamadas questões intrafemurais. E acrescentei: “Mais um pouco, e teremos nestepaiz o Ministério do Encontro do Piopio com a Borboletinha“. Pois é. Foram mais longe: já temos a MorteBras.
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