Vejo lá e ponho aqui

domingo, 6 de dezembro de 2009

PASSAVA O DOMINGO NA “GANDAIA” OU NO CEMITÉRIO?

do Reinaldo Azevedo | VEJA.com de Reinaldo Azevedo

Que sentido faz relembrar o passado de Lula? Ora, perguntem isso a Fábio Barreto, o diretor de "Lula, O Filho do Brasil". Perguntem isso a Barretão, o produtor. Perguntem isso à equipe de propaganda do Planalto. Quem é que está criando a imagem de um santo?

Escreve um leitor:
Reinaldo,
No filme, Lula é quase um celibatário: as únicas mulheres com quem se envolve são a Lurdes, que morreu, e dona Marisa. A cena do táxi, com o futuro sogro, está lá, mas Lula aparece como uma melancolia de poema do Poe: pede para o motorista desligar o rádio porque a música do Tim Maia o faz lembrar da mulher que morreu. Depois, o motorista mostra a foto de Marisa e seu filho, e Lula, como um profeta da auto-ajuda, diz que ela ainda vai ser muito feliz.

Retomo
Ainda não vi o filme, mas me contaram que é assim mesmo. Lula, já disse alguém, é um grande ator. Em entrevista recente, parte do trabalho hagiográfico de seus amigos, falando sobre o período que sucede à morte de sua mulher, o homem chorou e contou:
"Foram três anos de muito [sofrimento]… Eu comecei a ficar um cara chato porque, no Natal, eu começava a jogar a culpa em todo mundo. Então, na minha casa era assim: todo mundo alegre, Natal, Ano Novo, e, de repente, eu fica lembrando e me sentia vítima da humanidade (…) Eu ia no cemitério todo domingo. Todo santo domingo, DURANTE TRÊS ANOS, eu ia no cemitério levar flores.

É vida privada, certo? Certo! E por que está num programa de televisão? A versão que vai acima é aquela talhada para um filme que é peça inequívoca de propaganda política. MAS QUAL É A MEMÓRIA QUE LULA TINHA DO MESMO EVENTO EM 1979? ESTA, QUE ELE RELATA NA FAMOSA ENTREVISTA À PLAYBOY:

"Eu gostava muito da Maria de Lurdes. Vivi com ela só dois anos, de 1969 a 1971. Ela morreu de parto, e eu fiquei muito chocado. Perdi a vontade de tudo. Fiquei UNS SEIS MESES bem fodido na vida. Então percebi que estava vivo, não estava morto, não, porra! Aí comecei a cair na gandaia. Meu Deus do céu! Antes de conhecer a Marisa, FORAM TRÊS ANOS DE GANDAIA.  Eu queria sair com mulher de segunda a domingo."

Voltei
Qual é a verdade? O celibatário pressuroso e choroso, que passa três anos indo  todo domingo ao cemitério levar flores, ou o que cai na gandaia? Nada disso seria importante não estivesse em curso um processo de culto à personalidade.

Ninguém toca nesses assuntos? Eu toco! Ninguém está interessado em Lula como uma construção política e ideológica? Eu estou. E lhes digo que, entre os dois Lulas, acho que a verdade está com o de 1979. O de 2009 já é a encarnação de interesses que vão muito além das dores particulares.

Não preciso recorrer a ninguém para demonstrar que Lula e a verdade podem ser incompatíveis. Recorro ao próprio Lula.

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