O que pode haver de espantoso no 75º lugar obtido pelo Brasil no ranking do IDH? Ter ficado em último na América Latina? Estar atrás da Argentina? A vida do brasileiro ser pior que a do uruguaio? Provavelmente tudo. Mas nem o quadro assustador que esse resultado revela traduz completamente o desastre brasileiro.
Enquanto o mundo desenvolvido comemora a marca dos 80 anos como expectativa de vida, o brasileiro deve ficar muito satisfeito com 72,2 anos e olhe lá – estamos com sorte. Se a expectativa de vida fosse medida isoladamente, estaríamos em 81º lugar. É o resultado do que um estudo da USP apurou ano passado: nos últimos 15 anos o Brasil investiu 280 dólares anuais, por pessoa, em saúde.
É bem menos que a metade da média mundial (806 dólares). E nada indica que o Brasil pretenda mudar esse quadro, embora o percentual de velhos na população aumente em ritmo acelerado. Em 1990, 13,3% da população tinham mais de 60 anos. Em 2020 serão 24%. Quase o dobro.
Aparentemente, porém, o país não se assusta com esse cenário. Enquanto o mundo desenvolvido investe na saúde algo em torno de 15% do PIB, o Brasil não tem aplicado mais de 7,2%. Isso é o que nações como o Canadá destinavam à saúde há quase trinta anos. Não podemos, realmente, pretender nada melhor no IDH do que ficar atrás da Argentina que, apesar das sucessivas crises, ainda cuida melhor da sua população.
Para os brasileiro, resta o eterno sonho de país do futuro. A reação do ministério da Saúde aos números da ONU é típica de quem pretende cobrir o sol com o dedo. “Com certeza a partir de 2010 vai haver uma melhora”, diz o diretor do departamento de Análise de Situação de Saúde, Otaliba Libânio. Nas contas dele, o ministério só não aplica mais dinheiro na saúde porque a oposição não bloqueia a criação da nova CPMF.
Ele não disse, mas não é por culpa da oposição que os hospitais privados de São Paulo, Rio e Minas romperam os convênios com o SUS, porque o ministério da Saúde só paga R$ 2,50 por uma consulta médica. É por decisões dessa natureza que não dá para acreditar numa só palavra de burocratas como Libânio. Se os jovens não conseguem, como imaginar que os velhos viverão mais entregues à mixórdia das redes públicas de saúde.
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