Daqui a pouco, a segurança no Rio viverá outro dia de festa no Fantástico. A operação “Corra que a polícia vem aí - 18″ foi um espetáculo. Instalou-se a 18ª UPP, desta vez no morro da Mangueira. Há perto de 1.100 favelas no Rio. A Secretaria de Segurança tem um cálculo singular para definir o número de pessoas beneficiadas: o alcance de uma bala de fuzil, que tem um raio de até 2 quilômetros. Por esse critério, perto de 1,5 milhão (!!!) de pessoas já estariam experimentando os efeitos positivos das UPPs. Por esse critério, é uma pena que o nacrotráfico ainda não tenha mísseis. Beltrame estaria respondendo pela segurança de São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais…
No Estadão Online, leio o seguinte:
O secretário de segurança do Rio, José Mariano Beltrame, defendeu a estratégia de guerra anunciada em que o Estado antecipa à população quando será feita a ocupação de áreas estratégicas. Segundo ele, é preferível “mil vezes ocupar uma área sem dar um tiro a colocar a população em risco,” disse. “Hoje devolvemos um território para 20 mil pessoas, essa é uma vitória. A saída destas pessoas (traficantes) os deixa vulneráveis porque eles saem de sua área de domínio, e a polícia, atenta, vai atrás destas pessoas”, afirmou o secretário.
Certo! O jornalismo, que também poderia estar atento, deveria perguntar a Beltrame — se ele tiver os números, eu os publico aqui — qual é a variação da população de presos do Rio depois que as favelas começaram a ser “libertadas”. É inútil. Ele é a Marina Silva da segurança pública. As pessoas engolem tudo o que diz, por mais ilógico que seja. Quanto mais exótico raciocínio, mais superiormente interessantes soam suas palavras.
Há um fundo obviamente falso na argumentação do secretário. Qualquer alternativa será sempre melhor do que “colocar a população em risco”, não é mesmo? Até deixar tudo como está é preferível a matar inocentes. Ora, se estamos entre estes dois extremos — convidar o bandido a fugir e garantir a segurança da população —, então se está diante da declaração da falência do estado.
A exemplo do que acontece nas demais áreas ocupadas, o tráfico continuará a operar normalmente na Mangueira — tanto é assim que não falta bagulho no Rio; o mercado continua a ser abastecido normalmente —, mas de modo mais discreto, sem a exibição de armas que ofendem o senso estético da imprensa. A atividade comercial agora se dará com proteção policial, o que também elimina o risco de invasão da área pelo grupo rival ou pelas milícias. Tudo na paz! Os bandidos de grife, esses cujos apelidos exóticos chegam ao jornalismo, encontgrarão guarida numa das mil e poucas favelas sem UPPs, e a vida segue seu curso.
Agora falta filmar o sorriso das crianças, sua alegria ao empinar pipas, o trabalho educacional de algumas ONGs que ensinam quem já sabe bater lata… a bater lata.
Sérgio Cabral é show.
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