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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Planejamento financeiro: um começo para quem não sabe por onde começar

Planejamento financeiro: um começo para quem não sabe por onde começar:
Quando eu era criança, minha mãe trabalhava como professora de ensino infantil e me cobrava bastante a respeito dos estudos. Certa vez, numa tarde de preguiça, aleguei que não estudaria porque não tinha o caderno que havíamos combinado de comprar. Desculpa esfarrapada.
Minha casa era uma casa de professora, tínhamos papel e cadernos usados em todos os cantos. Poderia pegar qualquer um e utilizar as folhas em branco. Eu estava me enganando. Nas palavras dela, se eu quisesse mesmo estudar, o faria escrevendo no rolo de papel higiênico.
Rebato com esse raciocínio sempre que alguém diz que não começa a poupar porque não sabe onde investir, ou que não se organiza porque não sabe utilizar o Excel, ou ainda que está esperando receber um salário maior antes de começar a pensar em um planejamento mínimo. Auto-sabotagem.

Link no Youtube | Led Zeppelin e a primeira versão conhecida de Immigrant Song. Eles refinaram bastante.

Acredito muito em um viés mais prático, mão na massa. Faz, analisa, refina, faz de novo. Então, transpondo o raciocínio para as questões financeiras, não faz sentido esperar.

Então, o que eu faço para me organizar agora?

Seguindo a mesma linha: comece. A partir do momento que enxergamos dinheiro como energia, torna-se extremamente necessário entendermos de que maneira empregá-lo hoje para que tenhamos chances de direcioná-lo da maneira que desejamos.
Um ótimo primeiro exercício pode ser pegar uma folha em branco e rabiscar em que o último salário foi gasto.
Neste momento não é necessário planilha, calculadora, ábaco, nada. Papel e caneta. Tente ser o mais preciso possível, mas não deixe de fazer o exercício por não ter os dados. É só uma primeira versão.
Deve surgir daí uma necessidade bem latente de informações. Se não tivermos dedo no pulso para identificar como as coisas estão caminhando, não vai adiantar jurar de pé junto que mês que vem economizaremos, que a partir do próximo salário vai ser diferente. Escancare sua vida financeira, entenda para onde o dinheiro está indo.
Anotações podem ajudar bastante. Evolua o exercício. Na mesma folha em branco, registre seus gastos. Todo dia. Preze pela simplicidade, mas seja pragmático. Data, valor e descrição do gasto.
Duas semanas de acompanhamento já proporcionam uma visão muito melhorada do cenário. Como o mês tem quatro delas, já dá para arriscar uma estimativa de quanto você gasta por mês. É um passo imenso.

Mantenha a simplicidade

Por experiência própria e das pessoas que acompanho, não custa lembrar: o processo vai falhar. Por alguns dias vamos esquecer que estávamos anotando, chegaremos em casa exaustos, sem vontade de sentar por alguns minutos e repassar os gastos do dia. Retome, sem culpa.
Existem muitas ferramentas que auxiliam no monitoramento dos gastos e na previsão de custos, algumas delas muito bem construídas, com um grande foco em usabilidade. Elas fazem o trabalho sujo por você. São muito úteis, mas por enquanto, mantenha tudo o mais simples possível. Quanto mais simples o ritual, menor a chance de abandonar.

Pra começar, tenha em mente algo lúdico
É o hábito que vai se adequar a sua rotina e não o contrário. Nenhuma ferramenta é mais adaptável do que um papel em branco. As técnicas de monitoramento e estudo vão evoluir junto com a consciência financeira.
Se estamos num carro, a toda velocidade, indo em direção a um abismo, o que nos ajudaria mais: um botão simples, escrito “freio”, ou um painel de avião gigante e cheio comandos e alavancas? A mesma lógica vale para o método a ser utilizado.

O que fazer com o registro dos gastos?

Todas as roupas que estavam socadas no armário estão ali, expostas. Algumas realmente têm valor e servem bem, mas outras estão ocupando espaço e impedindo que você armazene peças que você realmente gostaria de ter.
Analise com calma cada um dos registros e categorize o gasto entre fixo – que ocorrem regularmente, todos os meses – e variável.
Não se apegue a uma análise extremamente minuciosa. A princípio, a ideia é identificar ralos. Só pelo fato de estarmos mantendo um monitoramento, tendemos a manter os olhos mais abertos para despesas inúteis. Pouco a pouco vamos nos flagrando. Parece que a vontade de gastar ameniza quando sabemos que não vai dar para esconder debaixo do tapete.

Tenha paciência, pegue leve

Muito comum surgir uma urgência em reduzir todos os gastos abruptamente, sem nem tentar lembrar por que eles estão lá. O café da tarde com os colegas de trabalho não é inútil. Parcimônia nos gastos é necessária, mas não é cortando todos os gastos que conseguiremos colocar nosso dinheiro para trabalhar por nós. Não é assim que ele nos ajuda a girar as rodas certas.
Antes de pensar em cortar os gastos, pense em entendê-los. Tenha a situação na mão.

Estratégias do tipo “Economize em todos os lugares possíveis” são empolgantes, mas não duram. Logo você lembra que o café da tarde estava lá para te dar fôlego para encarar o restante do dia e que uma noitada com uma boa companhia é um motivo justíssimo para um gasto maior, desde que não seja desenfreado.
A partir de uma consciência financeira mais aguçada, desdobram-se várias frentes a serem trabalhadas. Os próximos textos partirão daqui, desse detalhamento da posição financeira atual.
Aos que já tentaram utilizar planilhas/softwares e desejam fazer um teste com papel e caneta, utilizando um método mais simples e adaptável: fiquem à vontade para postar relatos nos comentários deste texto. Ficarei bem feliz em acompanhar.
Nota do Editor: Para saber de onde está vindo este texto, leia “Dinheiro: um outro modo de usar”, também do Eduardo Amuri.




O ritual de passagem do meu filho

O ritual de passagem do meu filho:
“Uma das maiores perdas das sociedades modernas foram os rituais de passagem masculinos.”
- Sam Keen, filósofo, no livro Fire in the belly: on being a man
Existe uma tribo amazônica chamada Matis. Eles separam os meninos dos homens através de uma bateria de testes extremamente visceral: chicotadas, espancamento e aplicação de veneno, tanto nos olhos quanto internamente, fazem parte da iniciação. O intuito é de aguçar e testar os sentidos (principalmente a visão), a força e a resistência física após fortes enjoos e efeitos colaterais.
Somente após provar o seu valor nesse ritual de passagem é que o pequeno índio passa a ser considerado um adulto e pode participar das caçadas.

Esse cara do meio já passou por isso
Penso que definitivamente não precisaria de tanto. Apenas queria que meu pai tivesse sentado comigo seriamente e me falado sobre coisas importantes da vida.
Então fico imaginando como faria isso com um filho meu, afinal, temos cada vez menos demarcações cronológicas que sinalizam passagens da fase juvenil à vida adulta.
Alguns grupos ainda têm seus ritos de passagem, mas, de modo geral, a sociedade moderna já não tem mais xamãs ou mestres (como a figura simbólica do Sr. Miyagi) que sirvam ao propósito de confrontar um jovem arrogante e cheio de si em suas certezas mais absolutas.
Sinto também falta de espaços em que esses rituais aconteçam de forma saudável e sem tanta carga de clichê. Um belo exemplo é a famosa visita ao puteiro que ensina para o jovem, de forma completamente sem sentido, que ele deve pagar para ter uma mulher em sua cama.

Por mim, faria assim

Eu tomaria uma semana para o ritual de passagem, dividindo em grandes temáticas da vida, para ensinar a ele coisas que só se aprendem na prática.
Precisaria de demarcações concretas associadas a algumas instruções simples ou pequenos debates e diálogos.

Ouça bem, filhão
Seria uma viagem para um lugar longe. Não iríamos de avião, mas sim com algum transporte bem mais lento. Caso reclamasse da distância ou da chatice da viagem, eu teria como ensinar minha primeira lição:
“É o percurso de um homem que define a qualidade de sua vida, e não só os picos das montanhas que ele talvez tenha atingido”.
Quando ele reclamasse de tédio ou cansaço, eu o deixaria falando sozinho por pelo menos uma hora, até que ele próprio percebesse a sua birra. Quando se calasse por mais de 15 minutos, eu pararia e diria:
“Às vezes um adulto precisa saber suportar rotinas chatas e maçantes por dias, semanas e meses a fio. Para você nascer, sua mãe passou por longos nove meses, e eu trabalhava dobrado para que muitas coisas chegassem à nossa mesa para te alimentar. Nem sempre eu dormia o quanto eu queria. E estou aqui, vivo.
Tenho certeza que você é capaz de aguentar duros e longos sacrifícios para conseguir o que você quer.
Isso se chama resiliência, meu filho.”
A viagem seguiria, e certamente cruzaríamos por algum tipo de acidente ou pessoa pedindo carona ou passando alguma necessidade. Eu diria a ele: “o que você quer fazer? Decida rápido, paramos para ajudar ou seguimos em frente?”
De qualquer forma essa seria uma oportunidade para encostar novamente na estrada diante de uma linda paisagem e explicar o que diferencia um ser humano de um animal:
“É a capacidade de escolha moral que nos diferencia uns dos outros, filho. Poderíamos ter parado para ajudar. Você não conhecia aquela pessoa, portanto poderia seguir sua vida como se nada fosse, mas o que você pudesse fazer iria ter um grande impacto na vida dela.
Você tem dois caminhos na vida. Um deles é rápido, que custa muito para atravessar, porque você deixa de lado valores importantes e se torna uma pessoa mimada, egocêntrica e insuportável. O outro é mais demorado e aparentemente sem resultados, mas nele se cultivam boas amizades, boas conversas e felicidade para as pessoas à sua volta.
Sem dinheiro, mulheres, trabalho e lazer você sobrevive, mas sem valores você não sabe para onde está indo. Isso faz toda a diferença.”
Chegando numa cidade-destino qualquer eu pediria a ele para se informar com alguém sobre um local para se hospedar que fosse em conta, gostoso de ficar e com gente diferente – nada de 5 estrelas. A ideia seria encarar a diversidade de realidades, diferente do mundo que ele imagina que seja.

Rocky ensinando ao seu filho que às vezes precisamos apanhar antes para vencer depois
No mesmo dia, procuraria algum lugar como um sítio ou fazenda e pediria um dia de trabalho honesto para duas pessoas. para mostrar para ele que o dinheiro não nasce em árvore. Diante de alguma reclamação dele, que provavelmente viria:
“Saiba que tudo o que você tem na vida foi criado em algum lugar como esse, por pessoas como essas. Cada minuto do que você faz tem um valor financeiro, e se vai fazer algo por muito tempo na vida, que seja algo que você faça bem, te dê prazer e beneficie os outros em qualquer área da vida delas.
É isso que chamo de trabalho.”
A hora do pagamento seria especial para dizer:
O dinheiro nada mais é do que uma alavanca, seja para alegrias ou aflições. Com muito ou pouco dinheiro, em uma carroça ou uma mansão, a confusão ou felicidade podem ser a mesma.
O dinheiro não transforma ninguém, só evidencia quem você é. Ricos ou pobres podem ser imbecis, porque dinheiro é passaporte: como você aplica seu dinheiro é que torna você rico ou pobre por dentro. Agora você decide como gastará o dinheiro que ganhou hoje.”
Se ele quisesse posar de bonachão eu cutucaria ele a ponderar como seria o dia de amanhã, e se quisesse posar de sério eu convidaria para à noite ir no baile da cidade.
Se fôssemos ao baile, eu deixaria ele se virar para se aproximar de alguém. Eu próprio convidaria uma dama para uma dança, mesmo sabendo que ele torceria o nariz em nome da mãe. Eu já estaria satisfeito se ele entendesse que se levar muito a sério faz qualquer um enlouquecer e que para se divertir não é preciso sacanear ninguém.

“Filho meu não vira adulto sem aprender a se virar”
Apesar do meu paladar ser um pouco avesso a bebidas alcoólicas eu diria a ele que para muitas pessoas a bebida pode ser um estimulante social, enquanto para outros é uma fuga para o abismo, de modo que é melhor saber exatamente qual seria o jeito de lidar com as coisas.
O que eu deixaria claro é que existe um submundo em que as coisas não são tão bonitas quanto gostaríamos, que cada um carrega um lado podre dentro de si que deve ser olhado de perto (sem hipocrisia) para não nos engolir.
Se ele fosse afoito em cima de uma garota eu deixaria nas entrelinhas a seguinte ideia:
“O mundo à sua volta é o campo de treinamento, mas as armas estão dentro de você. Portanto ouça e deguste as mulheres, e se delicie com o que sai de seus lábios antes de beijá-los.
O sexo é só uma parte de toda a brincadeira.”
No último dia, eu faria com que cozinhasse a própria comida, para entender a alquimia que existe em preparar sua própria refeição – e a vida. Depois faríamos algum exercício físico ou simulação de luta para perceber que a vitalidade nasce do movimento.
Seria valioso que ele percebesse que além de pai e filho somos parceiros e que as confissões dele seriam guardadas com os amigos.
“Sozinho você pode muita coisa, mas com amigos que te levantem, é ainda melhor.”
Essencialmente, antes desse ritual com meu filho eu faria o percurso sozinho, para que a viagem fosse apenas a coroação de tudo o que ele já viu a meu respeito e não uma revelação espantada de como aquele homem sem vida se revelou um caga-regras.
Esse seria o ritual de passagem ideal para um filho meu. Sei que é bem idealista, mas você não precisa concordar ou gostar.
Apenas convido você a compartilhar nos comentários como gostaria que tivesse sido o seu e o que você ofereceria de si para as próximas gerações.

Mecenas: Schweppes


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Não tem nada a ver com idade: um menino se torna um homem quando começa a ter atitude de um.
Homens não fazem doce, eles sabem que um toque amargo deixa tudo bem mais interessante.
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