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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Erro é achar que “Lula”, o filme, foi feito para cinema

Quem sabe das coisas é Marcos Araújo, um paulistano de fala mansa e verdades na ponta da língua. Dono de mais de 80 cinemas na periferia da capital e no ABC paulista, olhou para onde soprava o vento e não quis saber de Lula, o filho do Brasil em suas telas. Acertou em cheio. Na terceira semana de carreira, fora do Nordeste contam-se nos dedos os lugares ocupados nas salas de projeção.

Mas erra feio quem carimba como fracasso a marca de 800 mil espectadores em relação aos cinco milhões que os produtores esperavam. Esse era o número de pagantes, de ingressos que sairiam das bilheterias. Lula, o filho… será visto por muito mais gente. Dez vezes isso, talvez. Até outubro, o filme cruzará o país exibido em telões nas praças, nos estádios, nos assentamentos, nas paróquias da pastoral operária. Não faltarão olhos para projeto tão importante a ponto de ser financiado com o dinheiro das estatais.

Aí, sim, …o filho do Brasil se revelará ao seu povo como a mais bem cunhada chapa branca do cinema brasileiro. Só não se verá a saga de Lula, nem a sua predestinação à presidência que, pelo menos no filme, não existem. Saga, sim, está lá com todas as cores a de dona Lindu (aliás, Gloria Pires insuperável), a heroína de verdade nessa história.

O que o filme renova a cada momento é a mulher como bálsamo das agruras terrenas. Marisa Letícia aplaude, incentiva, empurra para a frente um Lula às vezes contemplativo. Lindu é a mulher tenaz, que carrega os fracos nos ombros e abandona o opressor na lama. É a mãe que arranca Lula da profunda depressão que as mortes da primeira mulher e do filho o enfiaram e o devolve aos trilhos da vida. É isso que pula da tela.

A lição – repetida à exaustão – é que a clareza, a serenidade, a persistência, a solução e a força estão ao alcance da mãe (olha a mãe do PAC aí, leitor). Nisso, Lula, o filho do Brasil é um sucesso e cumprirá o projeto de ser assistido por milhões de brasileiros até a eleição. Ou não temos mais centrais sindicais e movimentos sociais para carregá-lo? Equívoco é achar que essa peça foi construída para ser vista nos cinemas.



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